Cândido Portinari - (1942) Chorinho

quinta-feira, 29 de março de 2012

Antônio Adolfo - (1979) Viralata



Aqui está um post em celebração e homenageando um dos maiores mestres contrabaixísticos que já pisou nesse planeta: Jamil Joanes. Esse cara é um dos mais requisitados músicos de estúdio do Brasil, já gravou com Luiz Melodia, João Bosco, Raul Seixas, Oswaldo Montenegro, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Sandra de Sá, Toninho Horta, Elza Soares, Martinho da Vila, Toots Thielemans, Ney Matogrosso, Som Imaginário, Elis Regina, Paulinho da Viola, Banda Black Rio.... bah, e muitos outros. Da pra ver que versatilidade é a principal virtude do Jamil: ele consegue ser um sideman discreto, sólido e eficiente, porém quando a coisa pede mais tempero, um pouco mais de  pimenta... é aí que o gigante emerge!

E esse disco é uma ótima referência para saber de quem e do que estou falando. Em Viralata temos uma aula de música swigada brasileira em todas as faixas, capitaneado pelo grande músico e arranjador (e injustamente ilustre desconhecido pela maioria) Antônio Adolfo. O disco inicia pelo som que mais teve repercussão, "Cascavel", um samba funk com uma cadência deliciosa e arranjos aprumadíssimos. 

O que temos então é uma mistura de groove com samba, choro, baião, e até marchinha de carnaval - como "Alegria de Carnaval", única música com vocais, executados pelo grupo Viva Voz. Na verdade, essa mistura refinada entre levadas de baixo/batera costuradas com sopros dá a tônica do disco, com válida menção para "Assanhada", "Diana e Paulo" e "Caminhada".

A onda Black do final dos anos 70 proporcionou ótimos trabalhos, alguns eternizados... mas muitos fadados à obscuridade. E esse é o caso de Viralata, que conheci por acaso e faz algum tempo venho reparando que muita gente já sabe do que se trata. Quem não sabe, vale muito conferir.


Faixas:

01 - Cascavel
02 - Diana e Paulo
03 - Paraíba do Sul
04 - Brincadeira em mi bemol
05 - Caminhada
06 - Vermelhinho
07 - Nordeste
08 - Alegria e carnaval
09 - Viralata
10 - Assanhada
11 - A marcha


Instrumentistas:

Antônio Adolfo (Piano, Fender Rhodes)
Hélio Capucci (Guitarra)
Jamil Joanes (Baixo Elétrico)
Téo Lima (Bateria)
Agenor Mendes (Percussão)
Serginho Trombone (Trombone)
Bidinho Spínola (Trompete)
Zé Carlos Bigorna (Flauta, Saxofone)
Grupo Viva Voz (Vocais)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Baden Powell, Marcia, Os Originais do Samba - (1968) Recital Show


A virtuose de Baden Powell não é comum, pois ao contrário da maior parte dos músicos virtuoses, ele não é maçante e nem exatamente exibicionista. Ainda assim, é capaz de impressionar qualquer platéia do mundo. Seu debute se deu ainda garoto junto ao pessoal da bossa nova, tendo nesse período acumulado muitas e muitas horas de palco, acompanhando diversos nomes de peso e consolidando o seu estilo como o mais elaborado e, digamos, “popularmente erudito” dentre os violonistas da sua geração. Vide a versão da “Marcha Escocesa”, uma verdadeira aula sobre as possibilidades que um simples violão é capaz na mão de um gênio (agradecimentos ao meu tio Marcílio pela excelente indicação):



Esse registro ao vivo que lhes apresento se deu no ano de 1968, em show realizado no teatro Belo Vista, em São Paulo. O que faz desse disco algo notório é que esse foi o primeiro registro de algumas músicas que depois se tornariam grandes clássicos, como, por exemplo, “Berimbal” (versão instrumental), "Canto Do Caboclo Pedra Preta" e “Samba da Bênção”. Fato interessante que não se pode deixar de levar em conta é que esses afro-sambas, feitos em parceria com o poeta Vinícius de Morais, foram compostos numa única sessão de bebedeira de vários dias na casa de Vinícius, e - mais interessante ainda - era que nem um nem outro sequer haviam estado na Bahia até então...

Acompanhado pelo seu quarteto, Baden nos proporciona momentos de plena conjunção entre músico e instrumento. O que por si só já seria um grande atrativo, mas o caldo fica mais grosso no lado B, quando entra em cena Os Originais do Samba, contando inclusive com a ilustre presença do saudoso Mussum (sim, ele mesmo!) no reco-reco. Além das belas interpretações de Márcia aos vocais. 

Um disco descontraído, livre de formalismos e de muito bom gosto. Extraordinário pela força e energia que emana. Mais um perfeito exemplo daquilo que de melhor já se produziu em se tratando de samba e música brasileira. 

Faixas:

01 - Vento Vadio
02 - Marcha Escocesa
03 - Carinhoso
04 - Valça de Eurídice
05 - Berimbau
06 - Canto Do Caboclo Pedra Preta
07 - Só Por Amor
08 - Apelo
09 - Samba da Bênção   


Instrumentistas:

Baden Powell (Guitarra e Vocais) 
Márcia (Vocais)
Ernesto Ribeiro Gonçalves (Contrabaixo) 
Hélio Schiavo (Bateria)
Alfredo Bessa (Percussão e vocal)
Manoelzinho (flauta)
Bigode (pandeiro)
Lelei (tamborim)
Rubens (surdo)
Chiquinho (agogô)
Mussum (reco-reco)
Zeca (cuíca)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

sábado, 29 de outubro de 2011

Arthur Verocai - (1972) Arthur Verocai



O ano de 1972 foi de produção intensa para a música brasileira. Teve Milton Nascimento e o Clube da Esquina, Paulinho da Viola e A Dança da Solidão, Egberto Gismonti com Água e Vinho, Novos Baianos com Acabou Chorare, Caetano com Transa, Gil e seu Expresso 2222, só pra citar os mais populares. Havia sim muito experimentalismo no ar, mas nesse aspecto nada se compara ao que o maestro Arthur Verocai lançou nesse ano. De certa forma, poucas pessoas estavam preparadas para ouvir e entender o que aquele pessoal estava criando. Nadando contra a maré, o lançamento passou desapercebido e ficou no limbo por anos. Só recentemente seu trabalho foi redescoberto pelos gringos, gravado por nomes como MF Doom, Ludacris e especialmente o Little Brother, e teve finalmente seu merecido reconhecimento.

Muitos dentre a moçada que participou da gravação desse disco já é conhecida aqui do blog: Nivaldo Ornelas, Robertinho Silva, Luís Alves, Oberdan Magalhães, Toninho Horta... portanto, dispensam apresentações. O disco é bastante abrangente no que diz respeito à variedade de influências e estilo, passeando pela bossa nova, pelo jazz fusion, pelo soul americano, pela tropicália entre outros. Sem dúvida, a versatilidade é o principal elemento desse álbum.

O disco começa com o tema “Cabocla”, portador de uma atmosfera bucólica e psicodélica, e  chama a atenção pelos arranjos vocais realmente belos (inclusive samplers desses arranjos vocais foram usados na música We Got Now do grupo de rap Little Brother). Gosto muito dos temas instrumentais “Sylvia”, especialmente o solo de flauta de Oberdan, e do jazz “Karina (Domingo no Grajaú)”. Atenção especial para as belas letras que compões o disco, sempre pontuadas pelos sopros e executadas por diferentes vocais.

É um álbum surpreendente, muito refinado. Realmente bastante sofisticado para sua época, porém bastante fácil de assimilar devido à beleza dos arranjos e das composições. Para além desse trabalho, Arthur Verocai atuou mais como arranjador e produtor, participando de diversos trabalhos de gente como Jorge Ben, Tim Maia, Elis Regina, Gal Costa, entre outros.


(OBS.: Para este, também fico grato pela recomendação do Bruno, do Vizionários, que é outro que sempre apresenta algo de qualidade.)

Faixas:

01 – Caboclo
02 - Pelas Sombras
03 - Sylvia
04 - Presente Grego
05 - Dedicado uma Ela
06 - Seriado
07 - Na Boca do Sol
08 - Velho Parente
09 - O Mapa
10 - Karina (Domingo no Grajaú)


Instrumentistas:

Arthur Verocai (voz, guitarras)
Helio Delmiro (guitarras)
Aloysio Aguiar (piano)
Luís Alves (baixo)
Robertinho Silva (bateria)
Paschoal Meirelles (bateria)
Nivaldo Ornelas (sax)
Paulo Moura (sax)
Oberdan Magalhães (sax, flauta)
Edson Maciel (trombone)
Celia, D. Carlos, Toninho Horta, Gilda Horta, José Carlos, Luiz Carlos, Paulinho, Toninho Café, (vocais)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Rio 65 Trio - (1965) Rio 65 Trio


Dom Salvador é mais um dos grandes instrumentistas que o Brasil "perdeu" para o mundo. Em meados dos anos 60, no embalo da bossa nova, o pianista já era conhecido e respeitado no circuito Jazz do Rio de Janeiro (vide Beco das Garrafas) ao tocar com o Copa Trio, junto com o baterista Dom Um Romão e o contrabaixista Miguel Gusmão. Acompanhou o ingresso de futuros grandes nomes da MPB, como Edu Lobo, Elis Regina e o Quarteto em Cy (curiosamente, alguns anos depois o Copa Trio virou o Copa 4, com a adesão de Jorge Ben). 


Foi na metade da década de 60 que Dom Salvador montou o Rio 65 Trio, junto com o contrabaixista Sérgio Barroso e o fantástico baterista Edison Machado. Esse trabalho refletia toda a influência do Jazz norte americano (especialmente o da costa oeste) na bossa nova, o que futuramente seria enquadrado como "samba-jazz". No entanto, essa mistura produziu uma obra bastante original e impactante, tanto que a partir daí trabalho não faltou para Dom Salvador. Pena que foi na Europa e (posteriormente e definitivamente) nos EUA que o pianista consolidou sua carreira e seu público. 

Gostaria de falar um pouco sobre o monstro sagrado das baquetas brasileiras, Edison Machado. Esse carioca de Engenho Novo é um ícone do instrumento, junto com Milton Banana e Dom Um Romão, no que se refere ao samba moderno - ou bossa nova, como preferir - ainda que, junto desse último, eram os mais jazzistas dentre os bateristas da Bossa Nova. Sua técnica de condução foi uma inovação para a época, pois ele reproduzia a levada do samba apenas nos pratos, deixando uma gama de possibilidades e invenções para o bumbo e o aro da caixa. Nesse disco, é possível ver sua destreza em seu ponto mais alto. "Isso é (mais do que) bossa nova, isso é (ainda assim) muito natural". Assim como vários brasileiros, teve oportunidade nos EUA no início dos anos 60 tocando junto ao Bossa Três, com Luís Carlos Vinhas no piano e Tião Neto no contrabaixo. Em 1964, gravou com o trio o afamado LP (e posterior show) "Opinião", de Nara Leão. Em 76, mudou-se para os EUA e por lá ficou 14 anos. Edison nos deixou em 1990, mas tenho absoluta certeza que sua obra ainda irá influenciar diversas gerações futuras.  

O disco que lhes apresento trás versões jazzísticas e instrumentais de canções da bossa nova, como "Manhã de Carnaval" de Bonfá e Antônio Maria, "Tem Dó" de Baden e Vinícius, "Minha Namorada" de Lyra e Vinícius e o primeiro grande clássico da bossa nova "Desafinado", de Jobim e Mendonça. Há também três excelentes temas de composição de Dom Salvador, dentre eles o que mais se destaca é "Meu Fraco é Café Forte", um jazz extremamente elegante e intenso. Além dessas, o trio "abrasileirou" duas canções norte americanas: "Sonnymoon For Two" de Sonny Rollins e "Mau Mau" de Art Farmer. 

Para quem aprecia a boa música instrumental brasileira, esse disco é referência obrigatória. 

(OBS.: Fico grato pela recomendação de Rodrigo Wadouski para conhecer esse som - sempre apresentando algo de qualidade.)

Faixas:
01 - Meu Fraco é Café Forte
02 - Preciso Aprender a Ser Só
03 - Farjuto
04 - Desafinado
05 - Sonny Moon For Two (Blues em Samba)
06 - Espera De Você
07 - Mau, Mau
08 - Tem Dó
09 - Azul Contente
10 - Manhã de Carnaval 
11 - Minha Namorada 

Instrumentistas:
Dom Salvador (Piano)
Sérgio Barroso (Contrabaixo)
Edison Machado (Bateria)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Elis Regina – (1969) Elis, Como & Porque


O que me deixa mais impressionado (ou seria embasbacado?) é que em 1969, não se poderia gravar algo com cada instrumento separadinho, bonitinho, cada qual no seu canal e facilmente editável como se pode fazer hoje. Óbvio. Mas o fato é que mesmo hoje não se conseguiria gravar algo com essa qualidade. Não digo necessariamente de som, mas sim de execução. Os caras tinham que ser bons mesmo, a coisa era praticamente “ao vivo” e não havia espaço pra erros. Logo, sobrava espaço para a malandragem, a liberdade e o improviso.

Elis sempre andou muito bem acompanhada musicalmente, e com essa formação gravou trabalhos brilhantes. Como, por exemplo, essa maravilha que lhes apresento. Esse disco é uma pérola, é jazz puro. Na verdade, é jazz disfarçado de MPB... "JPB".


É fato que grandes clássicos da música popular se fazem presentes, como “Canto de Ossanha”, “O Barquinho”, “Andança” e a clássica das clássicas “Aquarela do Brasil”, mesclada inusitadamente com “Nega do Cabelo Duro”. Porém, Elis tinha também a virtude de saber escolher o repertório que gravava. E é aí que a coisa fica interessante.

“O Sonho”, já apresentada aqui no blog no disco “Sonho 70” de Egberto Gismonti, ganhou letra e um arranjo arrasador. O mesmo acontece com “Vera Cruz”, de Milton Nascimento, em uma performance inspiradíssima de Elis e banda. E nessa sequência de temas “quebradeiras”, eis que lhes trago mais uma excelente versão de “Casa Forte”: Uma das minhas músicas favoritas, em qualquer versão.

Volto a fazer menção aos instrumentistas que tocam nesse disco. Sou grande fã do batera Wilson das Neves, um cara que já gravou com quase todos os grandes da MPB, e contribuiu de forma determinante para o nível de excelência que a música brasileira alcançou mundo a fora (escute “Memórias de Marta Sare” e entenda). Vale observar a classe e elegância do pianista Antônio Adolfo e do baixista Zé Roberto, além do consagrado bossa-novista Roberto Menescal.

Nota 10.

Faixas:
01 – Aquarela do Brasil / Nega do Cabelo Duro
02 – O Sonho
03 – Vera Cruz
04 – Casa Forte
05 – Canto de Ossanha
06 – Giro
07 – O Barquinho
08 – Andança
09 – Recit de Cassard
10 – Samba de Pergunta
11 – Memórias de Marta Saré

Instrumentistas:
Elis Regina (Vocais) 
Antonio Adolfo (Piano) 
Roberto Menescal (Guitarras e Violões)
José Roberto (Contrabaixo)
Wilson das Neves (Bateria)
Hermes (Percussão)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!