Cândido Portinari - (1942) Chorinho

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Confraria da Costa - (2010) Confraria da Costa



Bom, seria bastante deselegante de minha parte escrever a resenha de um disco da minha própria banda... rs. Então postarei um texto de Paula Melech, que saiu no jornal "O Estado do Paraná":

"O som da Confraria dos Irmãos da Costa - ou simplesmente Confraria da Costa - está longe de qualquer experiência musical habitual. A banda curitibana enfrentou o desafio de unir referências que vão da originalidade do norte-americano Tom Waits, com sua voz rouca e letras intrigantes, até a multiplicidade de Andrew Bird, com sua mistura inusitada de instrumentos.

Ambientada em uma temática de piratas, o primeiro CD homônimo da Confraria da Costa aposta em uma sonoridade com caráter próprio que une bandolim, flauta e violino tendo como base o bom e velho rock and roll. O resultado é um som meio punk- rock cigano ao estilo de Gogol Bordello, que traz ao nosso tempo o clima dos piratas que viviam no século XVI.

Enquanto resgatam o ambiente dos marujos, a Confraria se revela crítica e irônica nas letras das canções. Em Certamente a mente mente, o trocadilho de palavras denuncia o teor crítico do trabalho: “Mente com os olhos vendados/Com os dois pés amarrados/Mente até de trás pra frente/Cegamente a mente mente”.

Com forte influência de Waits, em Confidencial, o compositor Ivan Halfon mostra uma faceta mais pessoal, o homem que procura o auto-conhecimento. “Tranquem a porta da minha casa/Depois preguem as janelas/Por uns tempos, eu acho/vou me ausentar”.

O processo de composição geralmente começa pela melodia ou a intenção vem do próprio título das músicas. “Em muitos casos, foi o nome da canção que deu a ideia para a letra. Mas a primeira música [Canto dos piratas] surgiu a partir de um poema”, conta Halfon, que também é vocalista, toca flauta e violão.
  
No álbum, o repertório mistura estilos de música cigana, polkas, csárdás (um tipo de dança húngara) e cabaré. O vocalista divide a instrumentação com Marcelo Stancatti (guitarra e bandolim), Jan Kossobudzki (violino), Pantaleoni (baixo) e Abdul Osiecki (bateria).
A belíssima ilustração da capa tem uma homenagem a Tom Waits, que aparece encostado no balcão do bar. A arte é de responsabilidade da Cia. de Canalhas, representada por Carlon Hardt e Lucas Fernandes.

A ideia de uma banda que tivesse referências nos piratas não foi proposital. “A gente queria fazer algo diferente. No começo até tentamos outras coisas, mas deu certo quando chegamos nesse tema”, diz o compositor. Os shows da banda são verdadeiras performances musicais, com claras referências a Gogol Bordello.

A banda enfrentou o desafio de unir opções estéticas nem um pouco óbvias e lançar o primeiro álbum de forma independente. E deu certo. No show de lançamento oficial, que aconteceu no mês passado, o CD foi generosamente bem recebido pelo público.

Prova disso é que Confraria está com a agenda lotada de shows e ainda este mês (dia 24) lança o segundo CD, Piratas ao vivo, pelo projeto A grande garagem que grava, no Teatro Universitário de Curitiba - TUC. O álbum traz oito canções inéditas e segue a linha do primeiro trabalho. 


Enquanto o disco ainda não tem uma estratégia de distribuição bem definida, está disponível no myspace"

Visite o site www.confrariadacosta.com.br

Faixas:
1 - Homo Tudo Sapiens
2 - Coisas Piores Acontecem no Mar
3 - À Deriva
4 - És Cadavérico!
5 - Confidencial
6 - Eu Já Esqueci Mais do que Você Um Dia Vai Saber
7 - Canto dos Piratas
8 - Embaixo da Mesa
9 - Certamente a Mente Mente
10 - Caravela Estelar
11 - Réquiem
12 - Não Abra Essa Caixa com Cobras


Instrumentistas:
Ivan Halfon (voz, violão e flauta)
Jan Kossobudzki (violino e banjo)
Pantaleoni (baixo elétrico e acústico)
Marcelo Stancatti (guitarra e bandolim)
Abdul Osiecki (voz, bateria e percussão)



DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Hermeto Pascoal - (1979) Montreux Jazz Festival (Ao Vivo)





Se você não conhece Hermeto, faço questão de lhe apresentar: Muito prazer, esse é o alagoano Hermeto Pascoal ao vivo na noite brasileira do Montreux Jazz Festival, no ano de 1979. Se você já conhece, aprecie e reverencie mais uma vez o mestre.

O disco é duplo, e registrou uma performance impressionante de Hermeto e sua banda. Aliás, que banda! Ali não tinha peixe pequeno. Destaque para as passagens de Nivaldo Ornelas, abrasileirando e costurando os temas com muita sabedoria, e pela cozinha também brasileiríssima de Nenê e Itiberê Zwarg. Esse certamente foi o show que consolidou a carreira internacional de Hermeto, e deixou muito gringo de queixo caído. Aliás, naquela mesma noite, teve também Elis Regina com sua super banda pra arrematar, abrindo para o bruxo e fazendo dueto com o próprio no final, uma coisa verdadeiramente impressionante.

O Jazz meio estranho de Hermeto já dá suas caras na abertura. “Pintando o Sete” é uma música que para quem costuma ouvir apenas música tonal, vai soar meio esquisito. Mas preste atenção justamente nessa questão da flutuação tonal, pois é uma sequência em que parece que vai dar tudo errado a qualquer momento, mas no fim sempre da certo. Aliás, essa percepção envolve todo o disco, afinal estamos falando de Jazz.
Mesmo o disco sendo recheado de ótimos e inúmeros improvisos, é claro que existem alguns momentos de bastante concisão, como em “Forró em Santo André”, “Fátima”, “Lagoa da Canoa”, "Nilza" e “Forró Brasil”, esse último tema uma maravilha de som: Quando você já está admirado pela execução do tema, eis que no final eles transformam um baião num frevo muito acelerado, que é de cair de costas!

E, também é claro, têm os momentos de “quebrar tudo”, como em “Remelexo”, “Bem Vinda”e  “Sax e Aplausos”. Vejam só esse video do jazz fusion “Maturi” e da própria “Quebrando Tudo”, uma performance brilhante de Hermeto e banda em Montreux:







Há também uma composição, segundo Hermeto conta, “fabricada no hotel”, a mais lenta e singela música do disco dedicada à cidade suíça: “Montreux”. No bis, um improviso de muita categoria do bruxo (“Voltando ao Palco” e “E Adeus”), com um uma timbrera que muito aprecio.

Agora falando francamente, nem todos estão preparados pra ouvir esse tipo de som. É denso, complexo e flutuante. Hermeto é um músico muito acima da média, alguns dizem até que é de outro planeta. Não ache que absorverá tudo em uma única audição, deguste lentamente e perceberá a gama de possibilidades musicais que o mestre nos proporciona. Funcionou muito bem comigo, espero que funcione bem com vocês também.

Faixas:
1 - Pintando o Sete
2 - Forró em Santo André
3 - Remelexo
4 - Bem Vinda
5 - Sax e Aplausos
6 - Lagoa da Canoa
7 - Fátima
8 - Terra Verde
9 - Maturi
10 - Quebrando Tudo
11 - Ilza
12 - Forró Brasil
13 - Montreux
14 - Voltando ao Palco
15 - E Adeus

Instrumentistas:
Hermeto Pascoal (sax soprano, escaleta, flauta, sax tenor, piano e voz)
Itiberê Zwarg (baixo)
Nenê (bateria, percussão, clavinete e cavaquinho)
Jovino Santos Neto (piano, clavinete)
Cacau (clarinete, sax barítono, sax tenor e flauta)
Nivaldo Ornelas (sax soprano, sax tenor e flauta)
Zabelê (percussão, voz e cavaquinho)
Pernambuco (percussão)


DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

sábado, 3 de abril de 2010

Caetano Veloso e Banda Black Rio - (1978) Bicho Baile Show


A primeira vez que eu ouvi esse disco não acreditei. Entrei em transe. Já conhecia a obra da Banda Black Rio e boa parte da obra de Caetano, mas não poderia imaginar que tal união pudesse proporcionar algo tão fantástico aos nossos ouvidos. Groove e Swing – essas duas palavras definem aquilo que norteia esse disco. Uma banda afiada, no auge, ainda com sua formação original (contando com o incrível Jamil Joanes nos baixos) destilando seu veneno Black sobre as músicas de Caetano Veloso.

É preciso assumir aqui a audácia de Caetano, que embalado pela onda da disco music, resolveu aproveitar a ascensão da Banda Black Rio e convidou-os para dividir o palco num verdadeiro Baile Show, indiferente à crítica que dizia que ele havia abandonado o tropicalismo e se vendido ao modismo da época. Pode até ser, mas o fato é que ele montou um show impressionante em se tratando de performance.

Já na intro, percebe-se o quilate da moçada que está tocando. E quando a banda ataca “Odara”, o deleite é total. Que sonzeira! E o melhor ainda está por vir... Pois em seguida segue uma versão de “Tigresa”, naquilo que em minha opinião dá pra chamar de versão definitiva desse som, com uma cozinha apavorante de boa e solos de sopro impecáveis. Há lugar até para uma versão dançante de “London, London”.

Felizmente para os fãs da Banda Black Rio, Caetano oferece espaço para algumas músicas apenas com a banda, como “Na Baixa do Sapateiro”, “Leblon Via Vaz Lobo” que, após um solo fabuloso de Oberdan, um do malandro Stevenson e outro do gigante Jamil, emendada na clássica “Maria Fumaça”, “Baião” e “Caminho da Roça”. Todas elas executadas com a mesma elegância em que aparecem no disco “Maria Fumaça”, do ano anterior, já postado aqui no Casa Forte Brasil.

Seguindo o baile, o disco trás ótimas versões para “Gente”, “Alegria, Alegria” e até mesmo para a estranha “Two Naira Fifty Kobo“. O ponto alto em minha opinião está na música “Qualquer Coisa”, que por si só já tem um apelo funk inegável, somado ao swing e groove da Banda Black Rio, fica simplesmente maravilhosa! A festa termina com uma empolgante versão de “Chuva, Suor e Cerveja”.

Álbum fantástico, altamente recomendado mesmo! Dedico especialmente para aquele pessoal que acha Caetano Veloso um chato. De fato, HOJE ele é um chato, mas nem sempre foi assim. Por isso recomendo ouvir esse disco e rever certos conceitos.


Faixas:
1 - Intro
2 - Odara
3 - Tigresa
4 - London, London
5 - Na Baixa do Sapateiro
6 - Leblon Via Vaz Lobo
7 - Maria Fumaça
8 - Two Naira Fifty Kobo
9 - Gente
10 - Alegria, Alegria
11 - Baião
12 - Caminho Da Roça
13 - Qualquer Coisa
14 - Chuva, Suor E Cerveja

Instrumentistas:
Caetano Veloso (Voz e Violão)
Oberdan Magalhães (Saxofones)
Jamil Joanes (Baixo Elétrico)
Luiz Carlos Batera (Bateria)
Cláudio Stevenson (Guitarra)
Cristóvão Bastos (Teclados)
Barrosinho (Trompete)
Lucio J da Silva (Trombone)
Sidinho Moreira (Percussão)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!! 


Oswaldo Montenegro – (1990) Oswaldo Montenegro (Álbum Branco)


Faço questão de tecer elogios para esse cara, um artista de verdade. Não apenas ao cantor, músico ou interprete, mas sim ao compositor de primeira qualidade que é. Há quem diga que suas músicas são demasiadas melancólicas. Até concordo. Mas é impossível não se curvar ao bom gosto desse artista tão criticado e discriminado pela mídia, porém detentor de uma obra sólida e um público fiel invejável.

Resolvi postar esse disco para fazer justiça à obra inigualável de Oswaldo Montenegro, colocando-o junto a todos os outros grandes já postados aqui. Esse é o “Álbum Branco” de Oswaldo, lançado em 1990, contendo na maioria belas canções. Após o sucesso maçante de “Lua e Flor” e a coroação com um excelente ao vivo gravado em 1988, Oswaldo parte para um novo trabalho, trazendo para sua música a atmosfera dos seus experimentos com teatro. As introduções de algumas músicas são clima puro, quase como vinhetas. Com um apelo cigano (e diria até exotérico), usando-se da mais diversa gama de instrumentos acústicos, Oswaldo esconde o que vem em seguida.

A beleza das músicas que abrem o disco (Coração de Todo Mundo, Travessuras, Gueixa) é o que marca todo o disco. Melodias lindas e arranjos minimalistas, mais de grande elegância. Existem clássicos já consagrados, como Bandolins e Agonia, e novos sucessos como Drops de Hortelã e Taxímetro, sempre pedidas em seus shows. Porém, o ponto alto do disco é a canção “Estrelas”, em minha humilde opinião, a melhor música e letra composta por Oswaldo Montenegro:
"Pela marca que nos deixa
A ausência de som que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar"

Não torça o nariz antes de ouvir, com calma, o que esse poeta maldito tem a nos oferecer. Tenho certeza que se surpreenderá e, se tiver a oportunidade, vá a algum show desse cara. É fato que ele não é nenhum virtuose, mas possui um magnetismo e carisma que só os grandes artistas possuem.

Faixas:
1 - Coração de Todo Mundo
2 - Travessuras
3 – Gueixa
4 - Andando Andando em Copacabana
5 - Drop's de Hortelã
6 - Agonia
7 - Taxímetro
8 - Simpatia de Giz
9 - Fruta Orvalhada
10 - Estrelas
11 – Histérica
12 – Bandolins

Instrumentistas:
Oswaldo Montenegro (Violão, Guitarras, Voz)
Madalena Salles (Flautas)
Jamil Joanes (Baixo elétrico)
Jaime Alem (Violão)
Jota Moraes (Teclados)
Lui Coimbra (Charango)
Milton Guedes (Assobio)



DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

sábado, 6 de março de 2010

Heraldo do Monte - (1980) Heraldo do Monte








Heraldo do Monte é um guitarrista sério e fora de série. Sem dúvida um ícone do instrumento em nosso país em todos os tempos. Seja na guitarra, violão, viola, bandolim, cavaquinho, ele tem a solidez reservada apenas aos grandes. Esse disco trás o Heraldo mais maduro e consistente em relação ao estilo mais ousado do disco já postado no Casa Forte Brasil do Quarteto Novo, de 1967.

E já na música de abertura, “Forrozin”, é possível perceber a versatilidade do jazz brasileiro. Esse é o tipo de música que agrada meus ouvidos, uma mistura de ritmos brazucas e liberdade de improviso, com Heraldo e sua guitarra semi-acústica pontilhando a base firme do baterista Dirceu. Ênfase para a execução do baixista Cláudio Bertrami, levando a parte do tema de forma brilhante.

Com justiça, a beleza da música brasileira é reverenciada no chorinho “Lamento”, de Pixinguinha, em um arranjo bastante elegante. As facetas da música nordestina se fazem presente por todo o disco, notadamente no baião jazzístico de “Pau de Arara” e no frevo de “Chuva moderna”. Há espaço para “Serenata” e a bela “Bebê”, ambas de Hermeto Pascoal, com a participação do próprio tocando órgão nessa última.

O disco termina com o samba “Alienadinho”, de Heraldo, e uma série de solos e improvisos que selam esse excelente trabalho. É algo que mais pessoas deveriam conhecer, por se tratar de um gênio da música instrumental em sua melhor forma. 



Faixas:
1 - Forrozin
2 - Lamento
3 - Serenata
4 - Pau-de-arara
5 - Chuva morna
6 - Bebê
7 - Alienadinho

Instrumentistas:
Heraldo do Monte (Guitarra, bandolim, cavaquinho, viola)
Hermeto Pascoal (Flauta, órgão)
Edson José Alves (Violão, ovation e quarteto de flautas)
Cláudio Bertrami (Baixo)
Gabriel (Baixo na faixa “Lamentos”)
Dirceu (Bateria)
Ubiraci (Percussão)
Theo (Percussão)
Severino Gomes da Silva (Trombone)
Walter Batista Azevedo (Trombone)
Dorival Auriani (Trompete)
Geraldo Auriani (Trompete)
Dominguinhos (Acordeon na faixa “Pau de Arara”)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!