Cândido Portinari - (1942) Chorinho

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

14 Bis - (1979) 14 Bis




Esse disco foi gravado no final de 1979,  pelo recém formado grupo mineiro 14 Bis. A banda era composta por Vermelho, Hely Rodrigues, os irmãos Cláudio e Flávio Venturini e Magrão (os dois último recém saídos da banda O Terço). Eles tinham boas canções, músicos excepcionais e ótimas melodias, porém uma grande desconfiança por parte das gravadoras, que não queriam saber de sons muito complexos devido ao choque cultural causado pelo movimento punk na Inglaterra. Para dar prosseguimento, foi preciso arrumar um padrinho. E assim o projeto foi apresentado com produção do também mineiro Milton Nascimento, um dos grandes idealizadores do Clube da Esquina - movimento musical que foi uma grande influência para o 14 Bis.

O disco é de uma fase que gosto muito da música nacional, pois ainda não havia aquela plasticidade e minimalismo dos anos 80, mas sim um leve rumo a ser seguido no futuro breve e uma valorização dos músicos competentes. Há muito mais características setentistas e do rock progressivo do que se poderia imaginar, como na bela "
Cinema de faroeste". A música “Meio dia” é um ótimo exemplo dessa mistura de 70 e pré-80. Aliás o lado B é o que mais gosto nesse disco, como nas músicas “Três ranchos”  e “O vento, a chuva, o teu olhar”, minha favorita.

O lado A é formado por músicas que fizeram de cara muito sucesso nas rádios, como “Natural” e “Canção da América”, uma música de Milton Nascimento e Fernando Brant inédita até então. O disco abre com “Perdido em Abbey Road”, mais um exemplo dessa fase transitória da música, notadamente devido ao avanço tecnológico.

Nesse ponto, há que se discutir muito sobre o que a tecnologia fez com a música. Maior qualidade sonora? Talvez. Mas isso vai muito do gosto de cada um. Eu gosto muito dos dois primeiros discos dessa banda. Mas o que veio depois faz parte de um estilo que eu considero pop demais, especialmente pela influência do movimento New Age, uma conseqüência direta do já citado movimento punk, e do advento da tecnologia digital (substituindo a boa e velha tecnologia analógica que eu tanto gosto...). 

Faixas:
1 - Perdido em Abbey Road
2 - Canção da América
3 - Ponta de esperança
4 - Pedra menina
5 - Cinema de faroeste
6 - Natural
7 - O vento, a chuva, o teu olhar
8 - Blue
9 - Meio-dia
10 - Três ranchos
11 - Sonho de valsa

Instrumentistas:

Vermelho (teclados, guitarras)
Flávio Venturini (teclados, vocal)
Cláudio Venturini (guitarras)
Hely Rodrigues (bateria)
Sérgio Magrão (baixo)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

domingo, 4 de outubro de 2009

Elis Regina & Zimbo Trio - (1965) O Fino do Fino



Esse disco é um marco na história da Música Popoular Brasileira. Uma apresentação fantástica no Teatro Record, em 1965, para o programa "O Fino da Bossa", comandando por Elis Regina, então com 20 anos, e Jair Rodrigues. O Zimbo Trio foi o principal representante da bossa nova paulistana, e só não foi a banda de apoio do programa porque seus integrantes aproveitaram a oportunidade de excursionar pelo Japão, junto aos desfiles patrocinados pela Rhodia. O fato é que o grupo foi de fundamental influência para diversos músicos (incluindo o que vos escreve) no quesito “como tocar música brasileira com elegância”. Neste, os arranjos da banda e a interpretação de Elis são de qualidade superior.

Achei um trechinho de Elis cantando no programa a música “Casa Forte” (a banda creio ser o Jango Trio). Não poderia deixar de postar aqui:


Esse disco começa com o grito de liberdade da música “"Zambi", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, e é a minha favorita devido à atmosfera criada, que nos remete aos anos de chumbo, e todo aquele clima de medo, insegurança e movimento cultural fomentado pelo golpe de 64. Não que houvesse um ar de protesto intencional no disco, mas ninguém mais estava falando sobre zumbi em 1965. 


Os temas instrumentais “Aruanda”, “Só eu sei o nome”, “Samba meu”, “Expresso sete” e “Samba novo”, são executados maravilhosamente pelo Zimbo Trio e demonstra a bossa nova muito mais tendendo ao jazz do que as que eram feitas até então. “Canção do amanhecer” é uma das poucas músicas melancólicas do disco, mas muito bonita. Destaque também para “Te o Sol Raiar” e “Amor Demais”. O disco termina com uma versão sublime de “Chegança”

O pianista Amilton Godoy, em um especial da TV Cultura, diz que era surpreendente a habilidade de Elis Regina dentro do contexto da música um tanto quanto improvisada do grupo, pois ela estava atenta a todos os detalhes, desde um acento de bateria a uma jogada do piano, ela entrava na estrada que os músicos estavam trilhando, qualquer que fosse ela.

Faixas:
1 - Zambi
2 - Aruanda
3 - Canção do amanhecer
4 - Só eu sei o nome
5 - Esse mundo é meu / Resolução
6 - Samba meu
7 - Expresso sete
8 - Té o sol raiar
9 -  Chuva
10 - Amor demais
11 - Samba novo
12 - Chegança

Instrumentistas:
Elis Regina (Voz)
Amilton Godoy (Piano)
Luís Chaves (Contrabaixo)
Rubinho Barsotti (Bateria)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hermeto Pascoal e Brazilian Octopus - (1970) Brazilian Octopus



Já ouvi a definição que esse álbum foi feito exclusivamente para os gringos, pois o clima “bossa de elevador” que ronda o disco poderia fazer dele algo chato. Mas a verdade é que estamos falando em arranjos de Hermeto Pascoal, e nesse caso o óbvio não faz parte do contexto. O fato é que esse disco possui um som bastante agradável, porém pouco agressivo se levarmos em conta os rumos que a carreira de Hermeto tomou.

Na verdade, quem capitaneava o octeto era o pianista Cido Bianchi, responsável pela montagem do grupo em 1968 devido a uma oferta feita por uma empresa de vestuário, a famosa Rhodia, para ser banda de apoio para os grandes desfiles de moda da época. O espetáculo “Momento 68” foi produzido pela empresa com textos de Millôr Fernandes e, entre atores, dançarinos, músicos, havia gente do quilate de Raul Cortês, Walmor Chagas, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Lennie Dale além, é claro, da própria banda Brazilian Octopus.

Dentro desse ambiente, surgiu a oportunidade de gravar um disco. A proposta no fim foi bastante estranha, pois toda a estrutura foi bancada pela Rhodia, porém o disco foi lançado sem muito alarde e acabou fazendo mais sucesso no exterior do que aqui, sem nunca ter dado retorno financeiro ao grupo. Hoje em dia, ter esse disco em formato LP é um raro tesouro.

Quanto às músicas, existe um mundo de variedades que passeiam pelo jazz, R&B, música latina, samba, rock, bossa nova entre outros. Só ouvindo pra entender. Músicas como “Canção Latina”, “Rhodosando” e “Chayê” (essas duas últimas composições de Hermeto) mostram as facetas latinas – notadamente ritmos caribenhos – do grupo. A música “Summerhill” já cai mais para o lado Jazz, enquanto “Momento B/8” tende ao R&B. Existe também mais uma (a quarta) versão de Casa Forte, numa interpretação muito elegante. A música de abertura do disco chama-se Gamboa e tem características interessantes, como é possível conferir nessas raras imagens do Brazilian Octopus tocando no programa “Música Brasileira” em meados de 1970:


Esse disco vale a pena ser conhecido pela qualidade dos músicos e das músicas, assim como pelo contexto histórico que o envolve.

Faixas:
1 - Gamboa
2 - Rhodosando
3 - Canção Latina
4 - Pavane
5 - As Borboletas
6 - Momento B/8
7 - Summerhill
8 - Gosto de Ser Como Sou
9 - Chayê
10 - Canção de Fim da Tarde
11 - O Pássaro
12 - Casa Forte

Instrumentistas:
Hermeto Pascoal (flauta)
Carlos Alberto Alcântara (sax tenor e flauta)
João Carlos Pegoraro (vibrafone)
Cido Bianchi (piano e órgão)
Lanny Gordin (guitarra)
Olmir “Alemão” Stocker (violão e guitarra)
Nilson da Matta (contrabaixo)
Douglas de Oliveira (bateria)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Toquinho e Vinícius de Moraes - (1975) O Poeta e o Violão



O Poeta e o Violão. Um nome perfeito para esse disco. Trata-se de uma gravação feita ao vivo em 1975 em apenas 4 horas (!!!) em um estúdio na cidade de Milão, Itália. Percebe-se no decorrer do disco um clima de imensa descontração entre os presentes.

O áudio é praticamente sem cortes e mostra toda a conversa entre as músicas (inclusive o som dos cigarros sendo acessos), com direito a dedicatória para vários parceiros, como Haroldo Lobo, João Gilberto, Carlos Lyra, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Chico Buarque entre outros. As composições apresentadas nesse disco são uma reunião de clássicos da bossa nova, como  as músicas “Tristeza”, “Chega de Saudades”, “Insensatez” e “Garota de Ipanema”.

As execuções de Toquinho são impecáveis, o que me faz pensar o quanto a música brasileira é imensa em possibilidades. Um exemplo é a versão de “Berimbau” e “Consolação”, na minha humilde opinião essa é a versão definitiva para essas músicas de Baden Powell. Ainda há uma participação do argentino Luis Enríquez Bacalov ao piano em “O Velho e o Mar”.

Esse é um disco que dá gosto de ouvir, seja pela qualidade das músicas quanto pela interpretação um tanto quanto respeitável e gostosa por parte desses dois grandes mestres da MPB, Vinícius de Morais e Toquinho, o Poeta e o Violão.


Faixas:
1 - Tristeza
2 - Marcha da Quarta-feira de Cinzas
3 - Morena Flor
4 - Chega de Saudade
5 - Dora
6 - Canto de Ossanha
7 - Rosa Desfolhada
8 - Berimbau - Consolação
9 - Januária
10 - Insensatez
11 - Apelo
12 - Garota de Ipanema
13 - O velho e a Flor
14 - Nature Boy

Instrumentistas:
Vinícius de Morais (Voz)
Toquinho (Voz e Violão)
Luis Enríquez Bacalov (Piano em “O Velho e o Mar”)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!


Uakti - (1989) Mapa


O grupo do mineiro Marco Antônio Guimarães é responsável pelas mais belas experimentações sonoras feitas em terras brasileiras. Ele e seu grupo Uakti utilizam-se de instrumentos construídos por eles próprios, eventualmente utilizando os instrumentos tradicionais. É difícil definir o que cada um toca, pois há um revezamento de instrumentos o tempo inteiro, muitas vezes na mesma música.

As composições  desse disco são em homenagem ao músico mineiro Marco Antonio Pereira Araújo (já postado no Casa Forte Brasil anteriormente), falecido em 1986. O título do disco é formado pelas suas inicias.

O estilo é bastante etéreo e percussivo, criando climas ora relaxantes (como as músicas “Aluá” e “Mapa”), ora alegres (como na “Dança dos Meninos”, composta em parceria com Milton Nascimento), ora sombrios (como na introspectiva “A Lenda”). Ainda há espaço para uma faixa bônus, que é na realidade é uma releitura do Bolero de Ravel, mas com uma característica “uaktiana” inconfundível.

Vale à pena conhecer esse e outros discos desses mineiros. E se algum dia tiver a oportunidade de assistir ao vivo, não desperdice a chance... palavra de quem já viu e ficou boquiaberto com esse maravilhoso grupo.

Faixas:
1 – Aluá
2 - Dança Dos Meninos
3 - Trilobita
4 - Mapa
5 - A Lenda
6 - Bolero (Maurice Ravel)


Instrumentistas:
Paulo Sérgio dos Santos
Artur Andrés Ribeiro
Décio de Souza Ramos Filho
Inês Brando (Piano)

DISCO ALTAMENTE RECOMENDADO!!!